Por que fazemos o mal? – Transformando a sombra personalidade

“O fato sombrio é que somos a espécie mais cruel e implacável que jamais pisou sobre a Terra e que, embora possamos ficar horrorizados quando lemos, no jornal ou nos livros, histórias sobre atrocidades cometidas pelo homem contra o homem, sabemos, intimamente, que cada um de nós abriga dentro de si os mesmos impulsos selvagens que levam ao assassínio, à tortura e à guerra.”

Anthony Storr, psicanalista

 

Para entender a essência do mal é necessário o confronto com a sombra.

 

Onde há um objeto sempre há sombra...

Sombra é tudo aquilo que você deixa de lado em sua personalidade, desde os impulsos primitivos até as aspirações mais nobres.

A consciência humana abrange uma pequena parte da realidade de acontecimentos externos e reações internas. Seria estranho pensar que ela daria conta de tudo o que se passa na sua vida.

A sombra é como um ímã que atrai para si o que consideramos lixo psicológico. E, portanto é um movimento criativo contínuo, visto que estamos sempre selecionando o que queremos ou não. Não tem substância em si, ou seja, cada pessoa ao longo de sua vida vai formando várias sombras diferentes, afinal, cada um tem o seu segredo, medo e trauma.

Nas histórias em quadrinhos o Incrível Hulk personaliza bem a sombra. Bruce Banner é um cientista calmo, racional e ponderado que ao ser agredido transforma-se no gigante verde, furioso e incontrolável.

Carl Gustav Jung (1875-1961) – o psiquiatra suíço criador da psicologia analítica e do termo sombra – se refere a ela como “aquela personalidade oculta, recalcada, freqüentemente inferior”, que em geral tem um valor afetivo negativo.

Segundo Jung é um arquétipo, uma força anímica, que está presente no homem e no inconsciente coletivo. Em toda a história da humanidade a sombra foi personificada nos mitos, religiões e na vida cotidiana por formas monstruosas, demoníacas e desumanas. Nos romances é personificada pelo papel do bandido e do inimigo que se opõe ao herói.

A sombra é um grande ladrão de energia. E quanto mais você ignora sua presença, maior será o dano causado.

Você pode colocar a culpa dos seus problemas na sociedade injusta, no parente chato, no colega de trabalho, no marido infiel, mas isso não diminuirá seus problemas concretamente.

A sombra pode ser aquilo que você não gostaria de ser: desonesto, egoísta, invejoso, ciumento ou burro. É, também, aquilo renega em você: como uma parte do corpo que não aceita ou um acontecimento do passado que quer esquecer. Pode ser aquilo que te irrita e incomoda no jeito dos outros.

Cada cultura e sociedade elege as características que são aceitáveis e condenáveis. A sombra se origina dessa seleção interna entre aquilo que devo fazer e aquilo que não devo.

Faça uma pequena análise de sua vida e isso será revelado.

Observe tudo aquilo que gostaria de ser e não é, ou aquilo que desejava conquistar e fracassou, isso é sombra também.

Se fizermos uma comparação com uma casa, a sombra seria o porão, o sótão ou o quarto da bagunça. Você gostaria de apresentar apenas a sala bem arrumada com móveis novos, bonitos e aconchegantes. A velharia, objetos quebrados e imprestáveis você joga no quarto da bagunça, bem longe dos olhos.

Quando conhece alguém, qual impressão você quer causar? Quer parecer uma pessoa equilibrada, boa e digna de amor? Ou gosta de jogar tudo na cara e não se importa em mostrar seus defeitos? De qualquer maneira, você tem uma sombra, pois ela representa sua fragilidade.

Somos incompletos e cheios de polaridades. Temos um lado equilibrado e doentio, ou seja, duas faces da mesma moeda. Já pensou que dentro de você existe um Gandhi e um Hitler à espera de se manifestar?

O estranho é que por pior que uma pessoa pareça ela tem uma faceta boa e agradável, e toda pessoa boa esconde algumas coisa repugnante.

O objetivo dessas descobertas não é diminuir a autoestima ou gerar desesperança, mas lançar luz em assuntos incômodos do dia-a-dia.

A sombra também tem algo de imoral, porque está contra as regras de um determinado grupo ou pelo menos nos coloca num dilema moral contra os costumes vigentes na sociedade. E por isso nos constrange, já que a sociedade está cheia de regras que atestam se você é “normal” ou não.

Você já deve ter se sentido mal ao fazer alguma coisa que ia contra as normas de um lugar.

Mas para ir fundo com a sombra você precisa agir como uma criança que curiosamente descobre todos os cantos da casa. Vai até o porão e sem nenhum julgamento moral olha tudo com surpresa, interesse e encanto.

A criança está aberta, sem pudor ou vergonha, e menos preocupada com a opinião dos outros. Pode admirar o feio, reutilizar o objeto desprezado e até fazer perguntas a respeito de assuntos tabus.

Quando eu era criança tive a oportunidade de visitar Botucatu – terra  de minha avó materna – vi a foto de meu bisavô na lápide do cemitério. Achei curioso os óculos tortos no seu rosto bonito e perguntei inocentemente, “porque ele tem os óculos caídos, ele era louco?”. Um burburinho repercutiu em meio às caras misteriosas.

Uma pergunta feita por uma criança a respeito de um assunto tabu gerou susto e depois um riso constrangido de todos.

Cada um queria me explicar que o fotógrafo desatencioso colocou os óculos de qualquer jeito. Eu não sabia que ele cometera suicídio, fato que abalou toda família. Nesse caso pessoal, a sombra da família era o suicídio. Minha mãe relata que esse acontecimento sempre foi comentado com muito pesar e revolta e muitas pessoas se sentiam parcialmente culpadas e deprimidas com o acontecido.

Quando um assunto não é dito vira mal dito ou maldito, gerador de angústia, desconforto e mal-estar. É assim que reagimos diante da sombra, com desgosto e espanto.

O trabalho com a sombra tem o objetivo de fazer o maldito virar bendito, a maldição, uma grande bênção e as trevas virem à luz.

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*Esse é o primeiro capítulo do livro. Falo de outros assuntos como as máscaras, as leis da sombra, como identificar a sombra no cotidiano, culpa e razões da falta de sucesso.

Também abordo as sombras profissionais, de família e no casal.

Procuro aprofundar aspectos como agressividade, sexualidade, dinheiro e finalmente sobre o mal e a mente criminosa.

Ao final proponho exercícios práticos para pessoas que tem vontade de transformar a sombra da personalidade em diferentes níveis de profundidade.

Foi um trabalho de anos realizado com muito carinho!

Como sei que muita gente vai perguntar eu já tô adiantando o link para você poder obter o livro que só está com venda online.

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Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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