Carta para uma suicida – dia #4 [amor]

Sobre o amor

*Frederico Mattos, psicólogo clínico e escritor

O amor nunca foi um prato que desceu sem indigestão para mim. Sempre amei errado na vida. Amei querendo ser amado e não querendo amar. Demorei para aprender isso.

Meus pais se amaram de um jeito estranho. Suas diferenças de personalidade me faziam ter calafrios ao presenciar, à contragosto deles, cada DR que tinham. Entendi que seja com personalidades parecidas ou distintas um casal só funciona se houver parceria e complementação.

Notei que as brigas constantes que tinham para gerenciar o pouco dinheiro que entrava na conta era um grande problema. A logística pratica de um casal podia por em risco qualquer romance. Deixe de pagar as contas e ter a louça lavada e verá o amor escorrendo pelo ralo.

Percebi também que não importa o quanto você se ache incrível e merecedor de amor, se não tiver cuidado consigo mesmo, nenhum amor irá ser dedicado a você. É preciso ser uma árvore de natal, com muitos galhos para que os outros pendurem agrados que deixem a árvore mais bonita. Quanto mais bonita e bem cuidada é uma árvore melhor as pessoas a enfeitam. Cuidar de si atrai o amor dos outros.

Dentro dessa perspectiva dar ao outro o amor passa a ser uma coisa fácil, pois vai transbordar. Lembro que essa referencia sofrida do amor dos meus pais me fez guardá-lo num cofre.

O amor funciona em oposição ao dinheiro, quando guardado ele desaparece. Toda vez que eu quis economizar amor ele desapareceu, pois quando ele é nivelado por baixo deixa de existir. Se você não bate direito a massa do amor ela não cresce. Dar e não receber de volta, portanto, passou a não ser um problema, pois eu estava amando.

Amar se trata de amar, de beneficiar o crescimentos dos outros seres, inclusive para além dos próprios interesses. Amar os animais é fácil, eles nos retribuem cegamente. Amar as pessoas é trabalhoso pois eles testam nosso amor. As pessoas resistem quando o nosso amor tem uma intenção secreta de dominação, posse e chantagem implícita. Quando amadas desse modo mesquinho as pessoas fogem, mas quando amadas com liberdade elas retribuem.

O amor não bate na porta de quem quer ser amado ou de quem finge amar quando quer ser amado, ele premia os criadores de amor, não os receptores…

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28. Sobre merecimento
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui para comprar] e Mães que amam demais. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana.

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Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094