Carta para uma suicida – dia #14 [sobre dinheiro]

Sobre dinheiro

*Por Frederico Mattos

Em 1991 (aos meus 11 anos) minha família, de classe média, sofreu um revés que nos deixou numa situação bem difícil financeiramente. Foram tempos de vagas magras que duraram bem uns 13 anos. Meu pai perdeu o emprego, se desestruturou financeiramente e 8 anos depois adoeceu e morreu de câncer. Tudo um pouco mais difícil.

Confesso que por conta desse cenário o dinheiro virou tema de brigas e impasses familiares.

O tempo passou e fui me deparar com a realidade do dinheiro na minha própria conta, notei que era negligente com ele. Demorei para perceber que meu descuido financeiro se devia a uma crença de que ele era problemático em si.

O dinheiro em si ou a quantidade que se tem dele não é reveladora de uma personalidade, mas seu uso sim. Existem gastões ou mesquinhos com muito ou pouco dinheiro. Isso é sintomático.

Entendendo isso notei que ter muito dinheiro não era um apaziguador das dores humanas por si. Pessoa com muito dinheiro poderiam ter disputas pessoais, conjugais e familiares como qualquer outra.

A ausência de dinheiro causa problemas para uma pessoa. Ela fica mais endurecida, paranóica, deslegitimada, enfraquecida socialmente e psicologicamente fragilizada. Essa vulnerabilidade vivida por muito tempo pode transformar essa pessoa numa máquina de ideias tóxicas, em especial se ela é cercada por um meio problemático e que legitime o poder por meio de ações criminais.

Por outro lado, a ilusão do dinheiro como ferramenta de pacificação emocional é um engano. Não raro as pessoas projetam no bem-estar financeiro coisas que ele não pode oferecer. Se as matrizes emocionais saudáveis não estiverem sendo regadas o dinheiro em abundância pode ativar os mesmos mecanismos paranóicos, endurecidos e problemáticos.

No Brasil, em particular, o dinheiro carrega uma contradição, quando não o temos desejamos como se fosse o que nos salvaria, mas quando alguém tem muito julgamos essa pessoa como digna de desconfiança, soberba e mesquinhez. Não há lugar para hospitalidade, ter muito ou ter pouco parece gerar desconforto.

A verdade é que ninguém está blindado com ou sem dinheiro. Para administrar 10 ou 1000 a pessoa terá que se debater com seus desejos, sua vaidade, sua generosidade ou falta dela. O problema do dinheiro é mais revelador sobre nossa personalidade pelo modo como o administramos do que quanto temos. Quem dera fosse tão fácil encher o bolso de dinheiro para se livrar de lidar consigo mesmos e os outros. Não é…

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*Frederico Mattos, psicólogo clínico e escritor
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui para comprar] e Mães que amam demais. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana.

Treinamentos online de “Como salvar seu relacionamento” e “Psicologia para todos”

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Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094