Carta para uma suicida – dia #29 [sobre perdão]

Sobre perdão

*Por Frederico Mattos

Precisei perdoar muitas pessoas na minha vida, minha sensibilidade sempre foi exagerada. É difícil viver quando nos sentimos estranhos, inadequados e quase sem pessoas de verdade para dialogar. Quando entramos em contato com a mão pesada do mundo que nos cerca saímos cheios de feridas.

Nessas horas é que o perdão vem como um bálsamo que transforma as feridas em cicatrizes. Com as feridas abertas e purgando pus não conseguimos nos mover e aproveitar a vida. Durante muito tempo ficamos assim, meio fragilizados de nossa capacidade de viver com os outros e a mágoa se torna uma companheira. Para cada convite da vida usamos a mágoa como explicação universal para nenhum risco. Se o amor bate na porta dizemos que fomos machucados e nós fechamos, se um novo trabalho surge nós nos trancamos na experiência de mudança passada e não mudamos também.

A mágoa tem uma função de desconfiança protetora. Mas precisamos sempre pensar no custo-benéfico de uma proteção. Se por um tempo ela nos protege, depois de um tempo ela pode estar nos impedindo de nos recuperar por completo. O lugar de vítima, quando legítimo, tem seu espaço na nossa recuperação, mas quando ele se torna crônico pode se tornar um mal em si. Se o lugar de vítima não abre espaço para empoderamento então ele só se tornou uma recusa para a vida plena.

O perdão é esse processo de sair do lugar de vítima para o de protagonismo. Nesse novo lugar nos colocamos numa outra trilha, daquela do pássaro ferido para o construtor de ninhos. Do lugar de quem foi machucado seguimos para o lugar de quem ajuda os feridos a partir da própria dor.

O perdão tem menos a ver com o ofender, que pode ter morrido, ser impenetrável, endurecido ou cronicamente tóxico. O perdão não tem a ver com concordar ou ficar amigo de quem o agrediu, ainda que essa possa ser uma consequências involuntária do perdão, não é o seu objetivo principal.

O perdão é uma reconciliação com a vida, com a fé na condição arbitrária e contraditória dos seres humanos. Perdoar é estar num processo, de durabilidade imprevisível, de dar para si mesmo novas chances de construir pontes seguras. Perdoar o outro é um caminho de reconexão com a auto-compaixão, pois quando deixamos nossa criança ferida num lugar cercado de amor podemos dar espaço para o adulto ser feliz.

O perdão é uma pacificação interna, é um jeito de redimirmos a vida por não ser o que queríamos que ela fosse. É como perdoar a estrada por ser pedregosa e esburacada. É darmos a nós mesmos o direito à alegria mesmo quando o jogo não está equilibrado.

O perdão é uma parte pro outro, mas a maior parte por nós mesmos. Sem o perdão o ódio é a regra numa busca pessoal em que ele deveria ser a exceção…

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28. Sobre merecimento
29. Sobre perdão
30. Sobre recomeço

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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui para comprar] e Mães que amam demais. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana.

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Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094