Carta para uma suicida – dia #3 [vida]

Sobre a vida

*Frederico Mattos, psicólogo clínico e escritor

Acho tão engraçado como usamos a palavra vida para fale de coisas tão abstratas que quase já não sabemos o que ela quer dizer. Vida pode ser tudo o que acontece entre o dia que nascemos (ou até antes nos sonhos dos nossos pais) e o dia que morremos (até o legado que deixamos).

Eu penso a vida de uma maneira simples, ela é tecido sutil e quase invisível de relações e acontecimentos que resolvemos cultivar. Basicamente a vida é uma teia de possibilidades, de portas que vamos abrindo e pessoas que vamos cultivando. O colorido da vida ele surge de uma disponibilidade em abrir seu coração para as pessoas.

Lembro claramente do meu pânico em me mostrar para os outros na adolescência. Cada palavra e gesto era medido com cuidado para eu não ser julgado ou rejeitado. Não funcionou, pelo contrário, essa meticulosidade não me fazia sorrir mais e nem me abrir com mais alegria. Eu escravo do mau gosto alheio, explico. As pessoas não são dadas a cultivar alegria pela alegria dos outros. Por medo, inveja ou egoísmo elas se ressentem quando os outros se monstras plenamente. Para diminuir o incomodo delas serem acanhadas e tristes elas criticam quem se revela ou próspera. Logo, para viver bem é preciso saber desapontar o pouco apoio que recebemos dos outros. Ser feliz é seguir na contramão da mesquinhez alheia.

Quando resolvi me mostrar mais, ser uma pessoa mais sensível e disponível parece que as pessoas rançosas não se sentiam confortáveis de se espalhar na minha vida, elas lentamente foram saindo. A pessoa rançosa que eu era também saiu de mim. Parei de me culpar por tudo e ser mais afetivo comigo mesmo. Todo erro que eu cometia seria perdoado.

Abandonei a perspectiva de uma vida perfeita. Não queria mais algo ideal ou intacto, e sim algo orgânico, carregado de emoções, perdas e alegrias, algo que estivesse ao meu alcance. Eu poderia visitar todos os países do mundo ou conhecer todas as garotas incríveis que haveriam no mundo, mas não. Sei que a maioria dos lugares incríveis que existem na terra não me conhecerão e que todas as mulheres que eu podia amar e ser amado não me encontrarão. Resolvi restringir meu ciclos de experiências, viver com meia dúzia de coisas possíveis, algo que eu desse conta de viver, tocar e degustar. Desagradar os outros ficou mais fácil desse jeito.

Parei de economizar a vida porque ela traz desapontamentos, parei de restringir amor porque ele acaba. Quando e se acabar eu vivi. Quando alguém morrer eu vou seguir porque minha homenagem é seguir vivendo. A provisoriedade da vida não estrangula mais minha esperança. Tenho esperança, mesmo com tudo podendo dar errado (e às vezes dando).

Quero seguir em frente, curioso, me arrastando nos dias ruins, mas em frente, quero descobrir como sobreviveremos como espécie humana. Quero ver o final dessa aposta, quero estar vivo quando eu morrer…

Pergunta [clique aqui]
1. Sobre o suicídio
2. Sobre o sofrimento
3. Sobre a vida
4. Sobre o amor
5. Sobre a família
6. Sobre solidão
7. Sobre relacionamentos amorosos
8. Sobre ser filho
9. Sobre ser mãe
10. Sobre ser pai
11. Sobre a morte
12. Sobre Deus
13. Sobre doenças
14. Sobre dinheiro
15. Sobre desejo
16. Sobre emoções
17. Sobre motivação
18. Sobre estar perdido
19. Sobre alternativas
20. Sobre dever e obrigações
21. Sobre amizades
22. Sobre fé
23. Sobre traumas
24. Sobre remédios psiquiátricos
25. Sobre dependência emocional
26. Sobre beleza
27. Sobre Justiça
28. Sobre merecimento
29. Sobre perdão
30. Sobre recomeço

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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui para comprar] e Mães que amam demais. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana.

Treinamentos online de “Como salvar seu relacionamento” e “Psicologia para todos”

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Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094