Carta para uma suicida – dia #15 [desejo]

Sobre desejo

*Por Frederico Mattos

Não há coisa mais desconcertante do que lidar com os desejos, não escolhem lugar, hora, pessoa e regras, apenas desejam. Como é a parte incontrolável da nossa vida os desejos são bem-vindos e ao mesmo tempo temidos.

Como vivemos em sociedade precisamos colocar os impulsos para refrescar um pouco antes de expressá-los, ou pelo menos deveria ser assim.

Brinco que existem dois tipos de pessoas no que se referem aos desejos, aquelas que olham por onde pisam e aquelas que pisam por onde olha. Há sofrimento em ambas. A que pisa por onde olha sofre de incontinência emocional, não consegue ver uma grama proibida que já vai pisar. Parece que o desejo pisca mais forte quando é contrariada e precisa fazer uma manobra para realizar aquilo que lhe é negado.

Mas de qualquer forma, creio que o sofrimento deste tipo de pessoa é menos evidente, pois ela se lambuza na vida enquanto o outro tipo de pessoa paga as contas.

O tipo de pessoa que olha por onde pisa, em essência, é o tipo de pessoa mais cuidadosa com a sensibilidade alheia e com as regras. Coisa linda, como manda o figurino, mas o problema é que grande parte dos contidos não se contenta em ser apenas um moderado. Normalmente essa pessoa quer ser tão moderada, mas tão correta, mas tão boa gente, mas tão amada por todos, mas tão perfeita que ela não respira direito.

Ela não pode brincar, sorris, dançar, dormir até mais tarde sem assinar um protocolo em cartório. Parece que precisa encontrar uma explicação razoável para cada pessoa com a qual vai interagir. O zelo que em si mesma é uma virtude vira uma prisão emocional.

Agora imagine o que vira a cabeça de uma pessoa que por se achar correta não tem brilho nos olhos porque confunde bondade com repressão? Uma vida apagada, submissa, ressentida, simplesmente porque adotou uma perspectiva tóxica de uma virtude. Há que ser civilizado, mas sem deixar de ser feliz. É um treino mais custoso para quem é contido, pois normalmente os contidos são assim por acreditar que respeitam uma tradição e honram sua família. Mas que família realmente afirmaria que quer ver os seus filhos e netos tristes em nome do bem?
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*Frederico Mattos, psicólogo clínico e escritor
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui para comprar] e Mães que amam demais. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana.

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Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094